Quando o ano é bom de inverno
Aqui no sertão da gente
Se acaba de repente
A seca que é um inferno
A mata muda o terno
Porque enverdece a flora
Jovem senhor e senhora
Se enchem de animação
Quando chove no sertão
A tristeza vai embora
O gado mata a sede
Que causava aperreio
O açude fica cheio
Que chega racha a parede
O vaqueiro arma a rede
Depois que tira a espora
E diz a sua senhora
Bote o meu rubacão
Quando chove no sertão
A tristeza vai embora
A gente ver pé de milho
Com a boneca pendendo
Tão bonito e parecendo
A mãe segurando o filho
Aí chega sem empecilho
Passarinho que bicora
E para cantar adora
Se sentar no seu pendão
Quando chove no sertão
A tristeza vai embora
Se acaba o calor
Que a mata estorrica
E a mata fica rica
De frores folha e verdor
Fica feliz o criador
Que a criação revigora
Agricultor diz vombora
Meu filho, plantar feijão!
Quando chove no sertão
A tristeza vai embora
Um torreão se levanta
Para o lado do nascente
E um touro brabo e valente
Com o trovão se espanta
Uma lagarta se encanta
Numa folha de amora
O canto da sericora
Entoa no grotilhão
Quando chove no sertão
A tristeza vai embora
Antes da chuva chegar
Vem primeiro a ventania
Depois a nuvem desfia
Para a terra molhar
E para a chuva espalhar
O vento é quem colabora
E a água adjutora
Da semente a eclosão
Quando chove no sertão
A tristeza vai embora
O sertanejo perante
Sua família feliz
Abre a boca e diz
Vamos ter safra abundante
Macaco todo pedante
Sobre o chão se acocora
E a casca do côco tora
Com uma pedra na mão
Quando chove no sertão
A tristeza vai embora
Só se vê a vizinhança
Dizendo sem ter engano
Minha gente esse ano
A gente vai ter bonança
Uma alegre criança
Na cocha do pai se escora
E a sogra diz a nora
Vamos matar um capão
Quando chove no sertão
A tristeza vai embora
Engorda bode e ovelha
No campo igual um paraíso
Matuto mostra um sorriso
De orelha a orelha
Ouvindo a chuva na telha
De alegria ele chora
E diz assim, a melhora
Chegou pra nosso povão
Quando chove no sertão
A tristeza vai embora