Despedida num canto provisório
E pranto com horário de acabar
Não dá conta de honrar a trajetória
De quem se quer homenagear
E com isso esse canto meu canto velório
É pra quem não pode se consolar
É notório que fica na memória
Pensar no afago que não deu
Quão inglório partir sem ter história
E engolir o partir sem dar adeus
E com isso esse meu canto velório
É pra quem não pode dar tchau pros seus
Sei, pesar não passa a mão
E nem dá trégua
Corta o peito com faca sem fio
Não se modera ao se fazer vadio
Sim, saudade não tem dó
Se faz severa
Não se demora e macera o que era peito
A ponto de pó
A pátria querida que outrora
Era tida de vívida e baião
Hoje chora a ida, o ir embora
A ardida ferida da cisão
Rogo praga a mórbida ceifeira
Ladroa de nossa legião
Oriunda do vírus da coroa
E descaso do chefe da nação
Para aqueles que não tinham nem eira
Nem beira e afeito hospitalar
Que do leito nem viram a cabeceira
Nem tiveram direito a respirar
Vou tentar expressar de tal maneira
O carinho, a tristeza e apesar
De não ter a devida cerimônia
Suas vidas havemos de lembrar
De cada pessoa que se foi
Hei de lembrar
Cada filho da terra que partiu
Hei de lembrar
Cada trabalhador que nos deixou
Hei de lembrar
De cada vida perdida no Brasil
Hei de lembrar
Me entristece saber de tanta gente
Em ambulatório e em bar
Dói não poder beijar
A urna lacrada
Não poder ao menos te olhar
E com isso esse meu canto velório
É pra quem não pode se abraçar