Na estrada do mundo eu me distanciava
Mas sempre lembrava o lugar que nasci
E quando voltei pra terra querida
Nem tudo na vida eu vi que perdi
A orquídea estava pendida no galho
E a gota de orvalho chorando na rama
Parece que até o guaruzinho do rio
Quando ele me viu se atolou na lama
A velha porteira sem brisa e sem vento
Naquele momento sozinha bateu
Até ela estava ali pressentindo
Que quem vinha vindo na estrada era eu
No pé de abacate tinha um galho solto
E o tronco já morto que quase caía
Até um besouro subindo na lasca
Debaixo da casca ao me ver se escondia
E ali no degrau da casa de outrora
A Nossa Senhora uma prece eu rezei
E quando virei a tramela sem chave
Na sala de entrada eu nada encontrei
Porém na parede um vulto abstrato
Um velho retrato que o tempo escreveu
Um rosto de santo com sorriso culto
Nos braços de um vulto e o vulto era eu
As teias de aranha pregadas no teto
Carcaças de insetos que a linha prendeu
Eu também andei por trilhas estranhas
Nas teias de aranha que a vida teceu
A casa deserta num triste abandono
Ninguém está no trono, o rei já morreu
Quem ronda esta casa sou eu passarinho
Voltando pro ninho de onde nasceu