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Confira a Letra Poema Tédio

Eduardo Costa

Poema Tédio

Venho doutor fazer lhe uma consulta
A doença que me punge e esteriliza a mocidade e o espírito
Resulta de uma chaga que nunca cicatriza

Sendo o mais sábio clínico do mundo
Sois também um filósofo notável
Do peito humano auscultador profundo
Curareis este mal inexorável
Que me esmaga o organismo fibra a fibra
Que me enevoa o cérebro e o condensa
Eu tenho um coração que já não vibra
Suporto uma cabeça que não pensa

Tédio mortal, tédio agoureiro
Que me envenena e escurece os dias
É como os beijos dados a dinheiro
Numa noite de orgia
Refletindo, diz o médico ao cliente
O amigo tem razão! Padece realmente

Contudo, a enfermidade, o morbuz que o devora
É um produto fatal do século de agora
Uma emoção vibrante, um abalo violento
Pode curá lo, creia, apenas num momento

O tédio é uma mordaz, uma total loucura
É a treva interior, a grande noite escura
Onde se esquece tudo: A sorte, a vida amada
O nosso próprio ser, e só se lembra do nada

Diga me: Alguma vez amou?
Nunca em seu peito estrugiu das paixões o temporal desfeito
Como a vaga do mar que se agita e escapela
Ao soturno rumor do vento e da procela?

Nunca doutor!
Pois meu caro, procure a agitação constante
Já viajou? Já visitou a Grécia? A Oceania?
O Oriente, a Terra Santa
Os sítios onde tudo hoje evoca e decanta
As glórias de uma idade imorredoura e eterna
Que amesquinha e deslumbra a geração moderna?
Doutor, percorri, como o Judas
O mundo é a humanidade

E entre as mulheres todas
Cujas bocas beijei em bacanais e bodas
Mulher nenhuma eu vi sobre a Terra tamanha
Que para mim não fosse uma visão estranha
Como fui, voltei, sem achar lenitivo
Para este mal, doutor, que assim me traz cativo
Pois frequente o circo amigo

A figura brejeira do famoso arlequim
Que a esta cidade inteira palmas e aclamações constantemente arranca
Talvez, sim, lhe restitua a gargalhada franca
Vejo agora que o meu mal está perdido
O truão de que falas, o palhaço querido
Que anda no coliseu assim tão aplaudido
Tem um riso de morte, um riso mascarado
Que encobre a dor sem fim do tédio e do cansaço
Sou eu, doutor, sou eu este palhaço!

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